10 novembro 2009

FAZ DE CONTA


Muito gosta o português de fazer de conta. Faz de conta que não está a fugir ao fisco, faz de conta que não está a falar ao telefone enquanto conduz, faz de conta que não sabe que não pode deixar os cócós do cão no passeio e faz de conta que desconhece que o Governo que acabou de ser eleito tinha como bandeira o casamento homossexual.
O desrespeito do português pelas regras, pelas normas e pelas leis é estóico. Despreza as mais elementares regras de civilidade como respeitar uma fila, ignora os ilícitos contra-ordenacionais e penais e abomina as instituições.

O português conta sempre uma história, arranja uma desculpa, dá um jeito, conhece sempre alguém. Como ouvíamos no filme "Cidade de Deus", malandro não pára, malandro dá um tempo.

É nessa procura de "um tempo" a mais, de um tempo desresponsabilizador, desculpante e salvífico que nos encontramos enquanto povo. O português que votou Sócrates quer os subsídios de Sócrates, quer o RSI de Sócrates, quer os 200 euros por criança de Sócrates, quer o TGV de Sócrates, quer o aeroporto de Sócrates, mas não quer o casamento dos homossexuais de Sócrates.

No dia 27 de Setembro, o português compareceu e votou nas urnas, votou conhecendo, ou devendo conhecer, os Programas eleitorais - casamento homossexual incluído.

Reivindicar agora o referendo é jogar o jogo do empata. " Dar tempo", brincar com o tempo e com as instituições, é coisa de malandro, não é?

in aparelho de estado.

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